De repente, as
cortinas de mata se abrem e nós finalmente a avistamos. Paramos por instantes,
contemplando a imensidão azul e extensa faixa de areia que a precede. Logo ali,
abaixo de nós, se estendia a Praia do Forno. Atrapalhados, com todos os
equipamentos em mãos, paramos. Os baldes pesavam em nossas mãos, os pés de pato
e os “macarrões” não deixaram de incomodar o coleguinha do lado, mas diante do
início da nossa jornada tudo pareceu mudar ligeiramente. Até o céu pareceu se
abrir um pouco mais, como se nos recebesse em saudosa acolhida para o trabalho
que viéramos realizar.
Passado o
primeiro impacto, o relativo silêncio da subida pela trilha foi quebrado por
animados comentários, enquanto tirávamos as primeiras fotos e descíamos,
ansiosos, em direção à areia. Logo, porém, percebemos que, assim como a
empolgação, a energia e pro-atividade também eram essenciais ao trabalho que
estávamos por começar.
Como uma
verdadeira equipe de pesquisa, dividimo-nos em quatro grupos, cada um com
funções bem específicas. Tínhamos diante de nós todo um ecossistema de regras
próprias, que estávamos apenas começando a entender.
Um dos grupos
dirigiu-se ao costão rochoso, para observar o que desde semanas estávamos
trabalhando em sala: a composição geológica de Arraial do Cabo (link para isso)
e a distribuição de ecossistemas nos níveis de litoral (link para o blog de
Biologia). Sob a orientação da professora Bianca, percebemos como a vida e as
relações de sobrevivência naquele micromundo é complexa e como os organismos
são muito bem adaptados às condições do ambiente.
Pudemos relacionar a presença de água nas
variadas faixas do litoral à presença de vida; a vida nas rochas sob a água era
abundante, bem como na superfície de rochas que mantinham algum contato com
ela. Seguia-se então uma porção de rocha nua, onde poucos seres vivos
habitavam, devido não somente à carência de água, mas de um solo também. Um
pouco mais acima, no costão, a situação mudava; o processo de formação de solo
já estava em estágio mais avançado, permitindo, assim, a existência de plantas
de baixo e médio porte.
Outro grupo
também ficou responsável pela análise de ecossistemas, mas num ambiente
totalmente diferenciado: o da areia. Em meio a canos de PVC, nosso objetivo era
fazer análise da distribuição populacional dos seres que vivem nesse solo
arenoso. Infelizmente, os resultados foram poucos.
Mas nem só de
terra firme vive o homem. Sem fazer alusões ao “navegar é preciso” de Fernando Pessoa,
um terceiro grupo se responsabilizou pela observação e conclusões a respeito
das condições da água. Discutimos então a composição química e os sais
presentes no sistema, levando em conta elementos como o Ph e a densidade.
O último grupo,
tão importante quanto os outros e, além disso, ligeiramente mais arriscado,
tinha em suas mãos a vida de outros. Sim, esse grupo precisava manter vivos os
animais coletados na praia, enquanto analisava suas características,
similaridades e diferenças. Isso possibilitaria, aplicando o que víramos em
sala de aula, a classificação desses organismos em grupos de semelhantes.
Fascinados com as
tarefas de pesquisa que estávamos desenvolvendo, só percebemos a promessa de um
dia ensolarado subitamente transformar-se em nublado no momento em que pequenas
gotas começaram a cair sobre nossas costas. Por um momento, a desorientação. E
agora? Contudo, logo revestidos pelas “capuchas” e devidamente, ou o mais
próximo disso, protegidos da chuva, voltamos todos ao trabalho. Afinal,
tínhamos uma missão a cumprir.
A intensa coleta
de dados que fazíamos só era interrompida quando, hora ou outra, um dos grupos
era chamado à atividade de mergulho. Ah, o mergulho! Munidos de tão desajeitados
instrumentos, dirigimo-nos à água gelada, ansiosos pelo que veríamos em
seguida. O que se revelou foi uma infinidade de movimento e cores, apenas à
espera os nossos olhares curiosos. Uma experiência inesquecível.
Por fim,
terminamos os trabalhos. Chegava a hora de recolher os materiais e rumar ao
nosso próximo destino. Ainda sob a chuva fina, realizamos uma última vontade:
mergulhar novamente, mas dessa vez livre de qualquer aparato, somente pelo
breve prazer de estar na companhia dos amigos e se divertir.
Congelando,
saímos novamente da água, porém sem arrependermo-nos um instante. Aos poucos,
tudo foi sendo rearrumado, guardado e carregado trilha acima (e abaixo). A
Praia do Forno já era mais uma lembrança; uma lembrança de descoberta, onde
provamos que o melhor ensino é aquele que se vive.